Quem SomosBem vindo ao nosso espaço

Acreditamos que educação não é sinônimo nem de informações nem de conteúdos. Esses muitas vezes se fazem necessários como matéria-prima para o trabalho da mente, mas o processo de aprendizagem integra um conjunto de fatores, sem que se reduza a um deles.

A reflexão, o silêncio e os momentos de entusiasmo, as dúvidas e os intervalos, fazem parte do sentido daquilo que se aprende. Há um corpo onde saberes se instauram, que precisa ser resgatado para o processo de aprender. A experiência de sentar-se calmamente para pensar é constitutiva dos modos de apreensão de diferentes objetos. Recuperar o valor da oralidade, da memória afetiva, das narrativas é fundamental para a ancoragem de certos saberes pela mente.

O processo de desenvolvimento da sabedoria tão necessária aos líderes, a aprendizagem de adultos em posições de poder e influência, passa também pelo livre-arbítrio da escolha em que prestar atenção e o que ignorar em um mundo de excessos. Aprender inclusive a acalmar o coração e a alma faz parte do esforço para se situar em um mundo com uma enorme multiplicidade de estímulos.

Parar diferenciar o que são sinais que anunciam um novo momento e o que são apenas ruídos faz parte da prática desse entendimento. Esse discernimento, que os ancestrais buscavam nos antigos fogos de conselho, nos diálogos tranquilos em volta do fogo é ainda necessário. Refletimos sobre essas questões na hora de pensar em um espaço e suas características. Colocamos uma lareira em cada sala e uma sob o céu aberto. Escolhemos um local com água, fogo, terra e ar. Um lugar em que o ar puro fala por si. Em que a floresta nos surpreende constantemente. Em que no inverno, o rio seca e a natureza parece ameaçada. Um lugar onde no verão a abundância das águas traz outras tensões. Um lugar onde a energia elétrica volta e meia falta, nos forçando a ter recursos para pensar sem o que estamos acostumados em um mundo de espetáculos no qual o olhar para fora tem tantos apelos, que não conseguimos olhar para dentro. Um lugar onde não tínhamos acesso à rede de internet, que agora aparece timidamente e ainda intermitente. Um lugar onde a ausência da cultura material talvez ensine mais do que a abundância. Planejamos, no entanto, o conforto em vários detalhes, até para que o excesso de desconforto não nos obrigasse a prestar mais atenção na materialidade das coisas do que gostaríamos.

Construímos uma cozinha aberta, onde podemos cozinhar juntos e frequentar ao longo do dia. Um lugar onde nos sentimos em casa. Colocamos um fogão à lenha e um fogão gourmet na cozinha, além de vidros para cozinhar em meio à natureza mesmo nos dias de chuva. Fizemos um espaço para quem quiser vir com a família. Pensamos em especial nas mães e pais de crianças pequenas que não gostariam de separar-se delas para passar um dia de reflexão na serra. É possível estar próximo e vê-las nos gramados, tocá-las eventualmente ao longo do dia para que se sintam na presença dos pais. Pensamos na importância de um lugar que abrigue a nossa humanidade, em que aprender não seja trabalho, em que pensar não seja o oposto de relaxar, que momentos de aprendizagem não signifiquem distância das crianças e onde a vida não nos pareça um incômodo. Um lugar que abrigue novas sensibilidades, que nos acolha para pensarmos em paz.